terça-feira, 13 de maio de 2014

Conto: Em que ponto chegamos

Era manhã, quase meio dia. O dia encontrava-se lindo, o sol iluminava como nunca, nem tão forte e nem tão fraco, simplesmente perfeito. A luz do sol não só ditava as cores naquela rua, mas também as realçava, enchendo-as de vida. O vento soprava suavemente, soando como um maestro, tornando as árvores em instrumentistas, as quais tinham suas folhas por instrumentos musicais. Tal orquestra era acompanhada pelo vocal dos pássaros que, em um estilo natural e otimista, cantavam para o sol.
                O dia parecia estar perfeito, mas não estava, não na rua Comandante José Dias. Lá o ar estava tenso, ansioso e indignado. Olhares checavam o horizonte incansáveis vezes, os relógios eram constantemente verificados como se adiantasse de alguma coisa.
                A frieza das pessoas nesse lugar era algo de se assustar. Mãos nos bolsos e cara fechada eram as coisas mais comuns de se encontrar naquele aglomerado de pessoas. “Abriu o sinal” disse alguém, causando esperança nos corações mais ingênuos e indiferença nos mais experientes, “Nada ainda”, afirmava outro, causando um suspiro indignado em muitos.
                Passaram-se cinco minutos e o ritual se repetia: olhos buscavam as horas, semblantes fechados, olhos no horizonte e suspiros indignados, parece até poético, mas é mais cruel que isso, mais cruel que simples rimas, simples versos. Durante a tortura da ansiedade passa um garoto vendendo chiclete, exclamando “Chiclete! É um pila só, comprem, tenho vários sabores!”,  mas o mais interessado disse “Cala a boca, guri”. O garoto trajava fiapos encardidos, parecia que não se lavava fazia meses.
                Todos ali tinham algo em comum, uma chaga, uma maldição, mas parece que isso não é o suficiente para elas se conhecerem. Deve ser porque estavam em uma floresta, sim, talvez todas essas pessoas estavam ariscas, selvagens, talvez por medo de se tornarem presas. Sim, os predadores da cidade buscam por presas desatentas, munidos com um cano e com as seguintes palavras “Passa tudo”. Então o medo afastou as pessoas, criando distâncias e barreiras entre elas.
                Passaram-se mais dois minutos e aquele que parecia não chegar, chegou. Era um ônibus, para a alegria de muitos, poucos ou de ninguém.

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