quarta-feira, 30 de abril de 2014

Conto: Carta a Paola

Esse conto é o meu segundo, andei lendo algumas obras de Edgar Allan Poe e Machado de Assis. Espero que esteja bom :)
Aceito correções e críticas :p
Lá vai:

Carta a Paola, de Juliano

             Estou um pouco ofegante, assumo. Talvez seja isso por causa do ocorrido? Talvez, mas escrevo esta carta porque gostaria de pedir seu perdão, Paola. Me perdoe pelo que te fiz.
Me lembro de quando nos conhecemos, foi estranho e ímpar, já que a desprezei no momento que a vi, pois sua aparência anoréxica não alterou meu ritmo cardíaco e nem meu fluxo sanguíneo, mas você estava lá. Fui um idiota de praxe, você vinha da zona norte de São Paulo para a zona sul me conhecer depois de trocar palavras pelo MySpace. A falta de tesão foi lentamente corrigida após nosso primeiro amigável encontro.
             Depois de uma semana, lembro-me de chamá-la para sair – agora era eu quem fazia o convite – e você aceitou para sair com o homem que te tratou mal no primeiro encontro. Esse segundo encontro ocorreu tranquilamente, trocávamos histórias, crenças e demências, além de rir da bagunça que umas crianças faziam na pequena pizzaria rústica onde jantávamos. Mesmo ocorrendo tudo naturalmente, nosso primeiro beijo não ocorreu no segundo encontro, mas sim no terceiro, no momento da despedida quando meu ônibus chegou, fechando a noite em um beijo poético porém clichê.
             Voltando ao objetivo da carta, reforço meu pedido de perdão ao assumir que sinto falta de nossas aventuras, de quando íamos para a mesma pizzaria para comemorar nossos aniversários, sejam eles de relacionamento, de nascimento ou de qualquer coisa fútil, íamos pra lá quase toda a semana. Éramos inseparáveis, mesmo com sua breve viagem aos Estados Unidos, mantínhamos aquele contato constante pela internet, tanto é que, em nosso primeiro ano de relacionamento, não teve um dia sequer que não nos vimos. Falando no nosso primeiro ano, aquelas pizzas que comíamos combateu bem sua anorexia, deixando-a quase que infinitamente mais formosa que antes, me senti um investidor de sucesso, que aplicou todo o seu dinheiro em uma pequena empresa que, depois de um tempo, se tornou em um monopólio internacional. Faturei! – pensava eu.
             E nossa vida sexual? Era incrível, acontecia em todos os lugares, não havia local santo. Éramos bons no que fazíamos, você rugia até perder a voz e eu acabava tonificando meus músculos através de incansáveis repetições. A coisa era como uma melodia clássica corrompida, pois era harmoniosa, contínua, afinada, pervertida e maliciosa, possuía inúmeros acordes e alturas. Era incrível. Era.
Infelizmente, tudo tem o seu fim, e eu temia o nosso término quando comecei a perceber suas astúcias e sagacidades. Fiquei sabendo das inúmeras vezes que você pediu dinheiro para minha mãe e minha irmã, e que nunca retornou dinheiro algum a elas. Uma vez até comecei a sair mais com meus amigos, os quais eram de infância, então você começou a desconfiar de minha lealdade, inventava coisas para me irritar ou para me jogar pra baixo, você tornou aquilo que eu chamava de viver em sofrer, a protagonista começava a agir como uma antagonista, a rainha ameaçava um cheque no rei, me encontrei encurralado. Me afastei dos amigos, pois achava ser mais fácil assim, mas não foi o suficiente. Mensagens vasculhadas, e-mails e SMSs lidos, você não descansava até achar algo que pudesse jogar contra mim. Aonde estava aquela confiança e aquela cumplicidade que tínhamos no início? Será que tudo aquilo nunca existiu, era só uma ilusão, ou era apenas uma fase?
             Embora minha vida já estava tão tribulada, não era o suficiente, não é? Posso dizer que você morreu em meu coração no dia em que a vi com aquele outro cara. O jeito que vocês estavam naquela sorveteria cortou o meu coração. Não fui tirar satisfação, não queria fazer algo estúpido. Em vez disso, implodi, fiz da explosão uma implosão, engoli aquele peso emocional goela abaixo, o que não foi o suficiente. Morria, pois fui ferido mortalmente no peito e na honra, voltava para casa em um tremendo inferno mental, e meu coração batia arritmadamente. Estava morrendo, precisava de um desfibrilador, precisava de um escape.
Me perdoe pela frieza que tive semana passada. Como abafei esse sentimento, fiquei extremamente quieto e frio enquanto fermentava aquele sentimento indescritível. Meus dedos formigavam as vezes, sentia um desconforto incrível em meu estômago, talvez era aquela maldita gastrite, e meu coração batia firme, ele não se alterava, tão ritmada e sombria era a forma que ele bombava. Não bastava o ocorrido, você sabia perfeitamente como agravar minha dor e catalizar pensamentos. Jamais eu pensaria em como você poderia ser cruel, e isso prova o tanto que a subestimei. Achei que era ingênua, mas o ingênuo, esse tempo todo, era eu. Me perdoe.
             Só não peço perdão pelo que aconteceu ontem. Estávamos em meu apartamento discutindo quando meus instintos de artista afloraram, comecei a pintar um quadro e minhas emoções estravasaram na forma mais bela que eu fantasiei. O fluxo de emoções foi tão rápido e intenso, senti que havia nascido para aquele momento, e percebi que este era o clímax de minha vida, que tudo que acontecesse depois daquele momento seria um desfecho. Te fiz de quadro, o quadro mais lindo que pintei, então peguei a faca mais próxima de mim e a fiz de pincel, e pincelei. Pincelei seu pescoço, depois tingi o fundo de teu coração; sua morte chegou antes que pudesse apreciar a obra. Seus olhos, como imaginava, não alterou em nada; continuam com o mesmo brilho de quando eram vivos, será que era porque você não tinha alma? Ora, não podem dizer que não te amei, pois te dei uma morte poética, você me deve essa. Enfim, para concluir esta carta, desejo que esteja confortável aí no inferno pois, em breve, você terá companhia. Até logo.

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