segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um sete um, nada tão incomum

Era umas nove horas da manhã daquela quinta feira, o dia havia amanhecido um pouco nublado naquela cidade do interior do estado de São Paulo. Lá fora, nas ruas do centro daquela cidade, o vai e vem de trabalhadores era constante — o comércio daquela cidade era forte e consistente. O que havia de interessante naquela cidade? Bom, nada muito especial, nada muito diferente do cotidiano. Em um consultório de odontologia, encontrava-se Renata, a secretária. Se tem algo que ela amava fazer era acessar a internet quando não tinha nada para fazer — como a clínica era de uma dentista só, ela estava sempre conectada.
Como a chefe dela havia saído para tomar um café, Renata resolveu ler algumas notícias na internet, até que uma em questão lhe chamou a atenção. A notícia tratava-se do alto índice de corrupção no Brasil e, como Renata julgava-se uma "cidadã de bem", logo começou a criticar a falta de honestidade que predominava o cenário político do país, comentando em cada notícia que encontrava sobre o país —
 seja a notícia sobre corrupção ou não — como forma de protesto. Passaram-se 10 minutos até que chegou um antigo e fiel cliente.
— Bom dia, Renata! — dizia Bruno com uma voz entusiasmada.
— Bom dia, Bruno. É a consulta das nove e quinze, né? A doutora estará aqui a qualquer momento — respondeu Renata, avisando-o que sua chefe logo estaria ali.
— Obrigado. Em breve, serei doutor também! Hehe — comentou Bruno, sem saber que a dentista não era uma doutora formada, mas sim bacharel em odontologia.
— Mas o senhor não faz física na USP?
— Faço, logo estarei terminando meu doutorado.
Então um suave ar constrangedor surgiu no ambiente, que logo foi quebrado quando Renata resmungou ao ler mais uma notícia sobre corrupção.
— O que aconteceu? — perguntou Bruno.
— Sabe aquele hospital que construíram ano passado perto da praça da independência?
— Aquele perto do centro comercial? Sim, sei qual que é.
— Então, acabei de ler uma notícia dizendo que a construção daquele hospital foi superfaturado em 23 milhões! Olha que absurdo!
— É... o povo tem o que merece.
— A desonestidade tomou conta dos políticos!
— Não só dos políticos, mas de toda a sociedade brasileira. Isso não é exclusivo deles, mas sim de toda a população. Infelizmente, a desonestidade é um mal cultural.
Mal Bruno terminou de falar quando Renata demonstrou-se um pouco ofendida:
— Falando assim, parece que até eu sou desonesta! Eu não faço parte desse povinho não! — disse ela um pouco exaltada.
Nisso, Bruno abriu um pouco os olhos, expressando um pouco de espanto, então respondeu:
— Eu falei da sociedade em si, da cultura do brasileiro, e não especialmente de você.
Emburrada, o semblante de Renata se fecha para Bruno e ela continua lendo as notícias.
Não demorou muito até que a dentista chegasse e atendesse o futuro doutor, então tudo seguiu nos conformes, como a rotina determinava todos os dias, até que, lá pelas três da tarde, Renata decide passar em uma padaria e comprar um salgado para o lanche da tarde, como fazia todos os dias.
— Boa tarde! — disse a atendente daquela padaria.
— Oi, eu vou querer um salgado e um refrigerante — disse Renata com um tom um pouco ríspido.
Tudo seguia rotineiramente, exceto na hora do pagamento: Renata sempre pagava o lanche, ritualmente, com uma nota de 10 reais só que, naquele dia, ela estava só com uma nota de 5 reais no bolso. Na hora de pagar, em vez da atendente lhe voltar 1 real (pois o salgado custava 4 reais), ela voltou 6, como se Renata tivesse pago com uma nota de 10. Renata, por sua vez, logo percebeu o erro da atendente e, em vez de avisá-la do erro, pegou o troco com o lanche e saiu rapidamente do estabelecimento. Lá fora, pensava consigo mesma "haha, troxa, me voltou o troco errado! Eita sorte que tenho, ganhei o dia!".
Triste não é o que ocorreu com a atendente que, por sua vez, saiu com um quebra de caixa de 10 reais, que irá ser descontado de seu salário (ou irá tentar compensar isso nos trocos posteriores). Triste é esta história se encaixar dentro de uma crônica, já que é algo que acontece todos os dias neste nosso amado e tão explorado país. É, o povo merece os representantes que tem.

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