quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Voltando de lá

     Então cheguei em casa com minhas bagagens, e observei. "Tudo está mudado", dizia meu coração a mim mesmo. No momento que pisei dentro da casa, logo minha namorada veio me receber.
— Quanto tempo, Jacó!
— Sim... tudo está tão diferente... — eu disse, enquanto negligenciava a carência dela. 
— Diferente? Está tudo do mesmo jeito.
— Pra mim não parece. O que eu vi de diferente foi aquela cadeira ali, as cores da parede, você...
     Então ela escondeu o sorriso e fechou a cara. Sem dar muitas palavras, ela vai até seu quarto e começa a chorar. Fui atrás dela, segui por um corredor até chegar em seu quarto. Enquanto andava pela casa, contemplava alguns detalhes que não tinha visto antes.
— Você mudou, Jacó. Já não te conheço mais. Vou
— Como assim?
— Tchau!
     Então ela saiu da minha casa, da minha vida. Bom, com a saída dela comecei a perceber que, realmente, eu estava mudado, pois fiquei indiferente quanto a isso. Voltei então pra minha casa, abri minhas malas e guardei minhas coisas.
     Essa viagem realmente me quebrou, estava todo dolorido, mas apenas por fora. Por dentro havia uma bem suprida fortaleza de certezas, aquele tempo trabalhando no exterior havia exercido alguma mudança em mim. Depois do banho, acabei encontrando algo que subiu pela espinha: encontrei algumas fotos antigas naquela casa. O que realmente me assombrou é que aquele lugar era exatamente como ele era há 3 anos atrás, antes de minha viagem.
     Fiquei pensando, por que será que eu estranhei aquele lugar, sendo que já vivi nele no passado? Me veio, aleatoriamente, um artigo que li na internet semanas atrás, que dizia que a cada ano todos os nossos átomos são substituídos. Então, quer dizer que eu não sou o mesmo de anos atrás, nem em nível atômico? Será por isso que eu estranhei a casa, no primeiro momento, pois aquele "agrupamento de átomos" nunca havia estado lá antes? Se estamos em constante reconstrução, o que cria a nossa identidade? Não podemos atribui-nos a um simples agrupamento de átomos, nem em padrões elétricos cerebrais, então no quê? Tudo em nós é reconstruído, alterado, mudado, desde as nossas células até os nossos próprios pensamentos. Se bebemos um copo d'água, aquilo se tornará parte de nós, e se urinamos, aquilo está deixando de ser parte de nós. Estamos ganhando e perdendo partes ao longo do tempo, evoluindo e trabalhando pensamentos e experiências. Se tudo em nós é temporário, onde então está nossa identidade, nosso ser, se tudo é mutável? Meu coração agora se agitou, ansioso pela resposta, por saber onde está o âmago do indivíduo. "O que é constante?", perguntou a mim o meu coração. Pensando um pouco, cheguei a conclusão que nós, vivos, somos constantes, enquanto estamos passando por mudanças. A constante seria a própria vida. "Só isso que é constante?" perguntou-me novamente o coração. Pensei por um momento e chutei, com um pouco de incerteza, que eram os sonhos. Mesmo que vivemos (ou não) mudando o foco de nossos sonhos, nós temos sonhos, e sonhos são imutáveis, incorruptíveis. Existem sonhos que bem conhecemos, sonhos que estão latentes (nos esquecemos deles de vez em quando, mas sempre estão por aí) e sonhos ocultos (que cabe a nós descobri-los). Acertei? "Sim", respondeu o coração.
     Depois de redecorar minha casa, percebi que ela estava com algumas características culturais do país onde passei um tempo. É, nossos sonhos podem até ser imutáveis, mas hoje percebo que, conforme eu passo pelos lugares, eu guardo eles comigo pra sempre — seja através de boas memórias e experiências, ou de meu ser cultural, que ama ser remendado com partes desses lugares.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

À mercê de nossa sociedade


O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe — Jean Jaques
Rosseau

     Faz sentido e tem razão, especialmente nesta época do ano. Por quê? A criança nasce e não aprende tudo com os pais (ingenuidade, inocência e pureza). Aí então os pais ensinam as crianças a mentir, impor "verdades" não comprovadas por pura conveniência (papai noel, coelhinho da páscoa, etc). Aí quando a criança (que não é tão burra quanto parece — ela também tem cérebro) descobre, por si mesma ou através de outras pessoas, que os pais dela a fez acreditar em mentiras, o que acontece em sua mente?

     "Mentir é certo então? Se não é, por que meus pais fizeram isso comigo? Se eles queriam o meu bem, por que me enganaram? Então eu posso mentir por conveniência?". Tem alguns que diriam "mas é da criança mentir, é um sinal de inteligência", de fato, na atual situação de nossa sociedade, quando o indivíduo resolve expor e anunciar a verdade, ele é alvejado pela horda acéfala de ovelhas que defendem as mentiras que elas fingem viverem. Não foi o que fizeram com grandes descobridores? Ora, na época que acreditava-se que o mundo era plano, o que acontecia com aqueles que se opunham contra essa ideia? Mortos, perseguidos, torturados.

     Se achamos que é conveniente mentir para nossos próprios filhos, então não devemos reclamar quando formos enganados, seja por farsantes ou políticos. Nós ensinamos as crianças a mentirem, mesmo dizendo que isso é errado. Dissemos a eles que existem palavras de baixo calão, denominadas de "palavrões", e que elas não devem falar tais palavras, mas não hesitamos em falar "vai tomar no cu" na frente deles quando nosso time favorito perde de goleada. Errado é você reprimir os recursos que eles tem para se expressar. Ensinamos as crianças a tirania e a submissão, que existem pessoas que tem tudo e pessoas que não tem nada, e que tudo isso é "normal". Ensinamos a elas que a violência é errada, mas juramos de morte aquele juiz que roubou o nosso time, ou juramos de violência aquelas pessoas que votaram no candidato do partido da oposição, pois "está ferrando com o país".
 
     Ensinamos o "certo" e fazemos o "errado". Antagonizamos o sexo à moralidade, seja por religião ou falsa moralidade, ensinamos a criança a lutar contra sua própria natureza, demonizamos os nossos próprios instintos. Demonstramos indiferença quando alguém é preso por roubar comida, mas ficamos cheios de ódio quando algum político desvia milhões: isso porque o dinheiro é mais importante e mais divino que a saciedade do próximo. Então que se faça isso: continuem a reprimir suas crianças, mas desde já façam uma poupança para o psicólogo ou psiquiatra, pois ela irá precisar disso no futuro. Também invistam em segurança e continuem a mentir: a sociedade é um reflexo de vocês, que já foram corrompidos e trabalham arduamente pela manutenção da corrupção.

Em suma: vão tomar em seus respectivos cus, seus falsos moralistas hipócritas do caralho (alguns incrementariam "filhos da puta" no xingamento, mas não acredito que uma prostituta seja imoral, ela também é uma trabalhadora que supre uma demanda da sociedade que você tanto defende).